terça-feira, abril 20, 2010

E assim deixo uma série de 11 poemas que ou foram reciclados ou simplesmente surgiram do nada.

E assim deixei de existir.
Não pararam os céus ou o tempo que agora o começava a ser.
Não pararam os ribeiros distantes nem a água que caía dos céus.
A vida começara quando eu deixara de existir.
Deixava no mundo as palavras que começara a escrever.
As palavras que fizeram a noite.
As palavras que fizeram a manhã apaixonar-se pelos homens, nascendo o fim de tarde. Existia agora no vento que ajudara a criar.
Nas histórias dos homens que por ali iriam passar com as suas melodias belas e os trapos coloridos.
Existia nos rastos de luz que serpenteavam nas montanhas.
Existia nas máquinas que rugiam em caminhos distantes.
Existia por fim em ti.
Dizia-te por fim amor.
Dizia-te por fim que nunca iria partir.
Dizia-te sem ter mais que mentir.

O teu cabelo era o sol que nascia com as manhãs.
Tinhas nos olhos os céus de inverno que dançavam com os homens de trapos coloridos.
Olhavas-me com compaixão no rosto.
Vias-me desaparecer com o tempo que já sabia que o era.
O tempo que me levava com ele e com o vento que os homens traziam nos seus longos cabelos.
Percorrias a casa apagando as memórias que as sombras tinham deixado ficar. Desenhavas com os homens as tuas memórias, as minhas memórias.
A casa começava a existir num verão que estaria por chegar.

Certo dia com a manhã cada vez mais resplandecente, vinha a chuva.
A chuva que brotava de céus dourados.
A chuva que tudo lavava das sombras como que se o próprio céu quisesse apagar as memórias que tinham deixado para trás.
Os homens apressados corriam pela sala com os seus cabelos que traziam o vento, gritando sons que alguém ousara recordar.
Ainda com a comida que lhes escorria pelo queixo, procuravam os seus melhores trapos.
Corriam para o velho alpendre, ostentando estandartes de tons ocre que mostravam ao céu.
Do meu quarto seguravas-me contra a janela, para que pudesse assistir à dança entre os homens e os céus.
Tentávamos esquecer as sombras cada vez mais escassas, mas elas lá estavam. Tinham levado quase tudo de mim.
Cada memória, noite após noite até que quase nada restasse.
Mas quase sem existirem lá estavam.
Ao longe nas montanhas ansiando por regressar.

Sonhava com o que não me podia recordar.
Sonhava com os Verões distantes de que não me conseguia recordar.
Eram sonhos pálidos de memórias como fumo que se elevava para longe de mim.
Sonhava apenas com um local onde existíamos nós.
Iguais ao que éramos sem que me pudesse esquecer.
Por vezes eram apenas sonhos negros.
Como uma cortina espessa que cai quando o espectáculo acaba.
E depois acordava naquelas noites escuras em que se tinham tornado os dias.
Certo dia acordo e vejo-te sentada em frente à minha secretária de madeira.
Não choravas.
Debruçavas-te sobre os textos que escrevera nas outras noites em que estava acordado.
Debruçavas-te sobre as poucas palavras que atormentavam durante a noite.

Ainda me agarro às cores vibrantes diante da casa que acabáramos de pintar.
Ao longe as árvores dançantes cantando sobre nós.
As searas amareladas pelo sol quente da tarde, eram a paz do que não conseguia ser.
Era o espaço em que podíamos existir.
Costumávamos preparar um grande banquete no alpendre da casa acabada de pintar. Deixávamos a comida escorrer-nos pelo queixo sem que nos preocupássemos com tal.
A minha mãe existia nesses tempos.
Correndo atarefada, não deixando que a comida acabasse naquele banquete.
Comíamos vendo o verão passar.
Comíamos até que os nossos estômagos doessem de prazer.
Até os nossos corpos trôpegos caírem no soalho do alpendre.
Eram memórias que as sombras tomavam para si.
Memórias como as fotografias que agora eram das sombras e de todas as outras coisas.

Eram noites quentes em que o suor pingava no colchão em que choravas.
Queria-te tanto amar e beijar os teus lábios que em tempos foram de um vermelho sangue.
Vivo como os pássaros que explodiam no ar diante de mim.
Os lábios que se abriam para mim. Os lábios que por vezes soltavam uma palavra que me fazia viver.
Tentava não olhar para as tuas fotos que viviam no meu quarto.
A única coisa que vivia no meu quarto para além das sombras que tudo levavam.

Por vezes pensava ouvir pássaros distantes.
Mas ao longe só as sombras e os corpos pálidos que corriam a estrada ostentando trapos coloridos que dançavam ao sabor do vento.
Por vezes gostava de fechar os olhos e pensar em ti na velha cadeira de baloiço. Pensar nos teus olhos cinza, olhando o horizonte sem que me deixasses em ti.

Com o passar dos anos, ia perdendo as memórias de quem teria sido.
Nos últimos tempos habituara-me a ver algumas das pessoas que ainda percorriam as estradas que as sombras tinham deixado.
Fantasmas pálidos e magros ostentando trapos coloridos que dançavam com o vento. Espectros de olhos profundos com o peso do mundo sobre os ombros.
Fechava-me em mim.
Todo o mundo se fechava em mim fazendo-me quebrar.
Pesavam-me os dias nos ombros e mais outra coisa qualquer.
Até que certo dia te ouvi chorar.

Quando percorria a cidade

lembro-me dos dias em que ainda existia em mim e de um homem que percorria a cidade ali tão perto.
recordo-me dos livros nas montras, desejando ser agarrados por alguém, quando ainda existia alguém para os desejar.
acordava bem cedo para te ver.
nos tempos em que ainda exista em mim, embriagava-me com os teus olhos de um cinza com tons de azul no café onde nos costumávamos encontrar.
trazias sempre os dias em que te queria ver.
eras como os livros que esperavam inquietos por alguém que os desejasse agarrar. eras como os livros que esperavam sós que alguém os desejasse agarrar. caminhávamos pela noite,
mantinhas a tua blusa com dois botões abertos para me provocar, pois sabias o que isso causava em mim.
mantinhas o rosto sereno iluminado pela luz da lua.
caminhávamos horas durante a noite, apesar do frio que se fazia sentir.
passavam horas sem que me dirigisses a palavra.
nem uma palavra cruel ou sem sentido.
como se não merecesse o que tinhas para dizer.
lembro-me de acordar e olhar para ti.
pondo a mão sobre o teu peito sentido o teu coração bater dentro de ti.

Tinha-te visto num dia

O dia cessara também.
Entrava uma luz incerta pelas janelas ainda por fechar.
Nada parecia realmente existir ali. Nem os móveis de madeira, nem os tapetes pendurados, nem os gatos.
Eram como fumo ou sonhos remotos que se perdiam nos quartos e nas salas da velha casa.
No alpendre, deixaras de existir.
Não morreras ao sabor de uma espada aguçada, ou de um acontecimento adverso. Simplesmente deixaras de existir na velha cadeira de baloiço agora imóvel.
Começava o tempo das outras coisas. O suspiro final antes do mergulho.
No meu quarto uma vela queimava os restos de luz que deixavam ver as pequenas partículas de pó suspensas no ar.
Ao longe os gritos retomavam a torrente da tarde que chegava.
Com o chegar da noite, as sirenes preenchiam os silêncios que ficavam.
O silêncio que agora me cortava a pele e me feria os olhos.
Do meu quarto, olhava as montanhas cada vez mais perto de mim.
Os fins de tarde nunca mais seriam os mesmos. Eram ondas que rebentavam no meu peito.
No resto da casa, a minha mãe corria pelas salas vazias, sem cor como todas as outras coisas comidas pelo tempo.
Passava aqueles fins de tarde fechando as velhas portadas de madeira que já não existiam.
As velhas portadas de madeira caídas algures num dia qualquer.
Com a chegada das sombras cumpria os rituais da solidão.
Ouvia-a chorar ao longe por coisas que não queria esquecer.
Tinha-a visto num dia em que abandonara o quarto.
Num dia em que tentara abandonar o quarto.
Vira-a qual fantasma pálido perdido naqueles corredores apodrecidos.
Pálida, com cinzas que lhe cobriam o corpo.
A minha mãe, uma memória presente, um sonho constante.

o ar quente e abafado deixava lentamente as minhas veias correndo agora nas nuvens que se extinguiam agora no horizonte.
amava a noite numa forma em que nunca pude existir.
a noite que escondia as sombras que me rasgavam a carne.
as sombras que ainda estariam para chegar.
existias sem mim desde que nos tínhamos visto pela primeira vez.
escondias-te nos locais em que eu não podia ser, em que não me podia encontrar. escondias-te de mim por gostares de mim. eras uma morte anunciada sem o cheiro fétido da terra molhada acabada de mover.
quando me deixavas existir por uns segundos junto de ti, apenas o silêncio.

segunda-feira, abril 19, 2010

o que me lembro de nós

lembro-me dos cheiros que ficaram em mim,
dos cheiros que deixaste em mim, da textura do teu casaco e do teu corpo nu que se perdia em mim nas noites que eram as nossas
esse cheiro que ficou em mim, que não me quer deixar a pele
que não me quer deixar o corpo ou o sangue que se solta de mim
esse teu olhar que ainda me queima a pele e me rasga o corpo com memórias que também foram tuas mas que não quiseste mais em ti.
ficam as fotos que me trazem cheiros, dias, sonhos, segundos
que me trazem o vazio que respiro de ti
fica o toque da tua pele, do casaco que trazias contigo nos dias frios, dos dias frios que trazias sobre a tua pele nua e pálida que se deixava ficar sobre mim quando partilhávamos corpos soltos na noite
e nasciam desejos no suor que surgia em nós.
o que deixaste para trás voa no vento, magoa-me a carne, trava-me a mente.
o que deixaste para trás não o quero para mim, não o quero sem ti.

o meu corpo não pára por ti nem pelo que ficou de nós
o meu corpo pálido deixa-me seguir sem ti no perdão que deixei em mim
seguem-me os dias ou as memorias do teu cabelo, por onde tantas vezes passei as mãos que tremiam dentro de mim.
e nos momentos que deixávamos secar numa chávena de café
não são os dias sem te ter que me deixam triste, são as fotos em que não são os teus olhos presentes, os teus lábios delicados, ou o teu rosto suave que ficam por desejar que ficam por querer e ansiar,
são os dias de sempre, de algures, de te ter perto de mim.
não são mais os teus olhos que se perdem em mim, são os desejos dos outros,
a raiva que cresce do sangue seco que nasce em mim.
esta raiva, este corpo que me prende a ti, as flores e a areia que ainda me resta por entre os dedos que passaram na tua pele, lendo desejos,
lendo segredos que cantavas para mim de pele fria e olhos tristes.
cresces em mim com o vazio que me preenche agora o peito,
respiro os cinzas que transpiras de noites em que fomos amantes dos nossos dias, dos nossos momentos dos nossos segredos.
dizia-te adeus, com palavras que te rasgavam a carne fingindo que estaria tudo bem que iria ficar tudo bem, dizia-te adeus com o vazio que nascia em mim
esperava-te alguém noutro local enquanto as minhas palavras te rasgavam o corpo até que nada restasse a não ser a memória do que não quis ficar.
perdi-te algures nesses dias em que fugiste no vento que não te queria deixar mais ficar, no vento que não me queria deixar-te mais amar.

quarta-feira, abril 14, 2010

All that's left

I'm a stranger in my mind,
I'm a foreigner in my world.
I can't feel the winter wind
or the morning coming again.
I'm a stranger in my mind,
I'm a foreigner in my world.
I can't feel summer turning to spring
or the the things we shared anymore.
Dead inside this world,
dead inside myself.
All that's left
is the emptiness that follows your words.
All the words we said
all the time we spend
doesn't mean nothing
doesn't mean something.
Dead inside,
empty inside.

segunda-feira, abril 12, 2010

The warm days that follow my fingers lying in the night that follows,
run short with the moments we had with us lying here.
I can't forgive the times we lost with stupid things we made,
times we lost with places we had before and lost after us.
Let the night get inside your heart, let it be free with the wind in your hair.
We are not here and we will never be,
and what snaps at your head, falls down our eyes,
and with the windows all closed we set apart.
I hope I'll see you soon,
I just hope I'll see you soon.

terça-feira, abril 06, 2010

se eu não for quem vai ter o teu olhar
se eu não for quem te leva numa foto qualquer
se eu não te trouxer comigo num abraço cheio
que fica no meio deste amor sem ser suposto,
neste beijo que não é reposto num segundo que já passou.
abre espaço no que é teu,
deixa espaço para mim porque o que ficou por fim
é este beijo sério dum olhar presente que fica solto no teu corpo a chegar.
une-me a memória do teu nome
daquele toque sério, do espaço intermédio no que fica para trás.
meu amor se é verdade, meu amor se há vontade,
vamos beber desta vontade do que crescer agora em nós.

trago-te numa chávena de café dum país distante onde nunca irás estar.
saboreio os beijos que ficaram por dar, nos olhares que bebo neste fim de tarde outonal.
trago os dias frios dentro de mim, esquecendo o que ficou por escrever.
trago os dias frios dentro de mim esquecendo o que ficou por escrever
trago-te nos dias em que te esqueço pelos dias em que anseio ter-te dentro de mim.
vejo-te nos beijos secretos dos amantes que partilham a noite com o vento que os abraça.
esqueço-te dentro de mim com os dias que passam,
esqueço-te em locais que nunca iremos ter e que nunca iremos amar,
perco-te por fim nos dias tristes de não te ter,
nos dias em que não posso ficar.

I try to find you in a distant country somewhere else.
You told me your lips were mine to kiss you.
I try to find you in words I wrote in spaces I left behind.
I try to find you in kisses I shared without you.
I find the beauty I found in you, in these distant winters in somewhere else
I try to put my arms all around you, because you'll might be there.
You don't need to be alone in this quest.
Sometimes we just need to get lost in a distant country,
or in a photo we bring with us.
To get lost in your eyes, in someone else's face is how I drink my days,
I taste your lips in this coffee cup,
with the flavors of distant winters that cover my eyes.
I bring you with me with the wind in my hair,
saying those words that never belonged to us.
I paint you in a notebook someone left behind with words we kept with us.
And finally there you are with me,
inside me crying for places where you'll never be.
In the end I bring you with me inside me, and there you'll stay.
In every place I'll visit, in every lips I'll kiss and in every eyes I'll drink.

quando partires

quando partires ficará apenas a solidão.
irão ficar os dias de não te ter mais junto a mim.
fecharei os olhos para te ver dentro de mim,
para te ver junto a mim escrevendo as tardes que surgiram sem pensar.
quando partires ficarei apenas sem ti,
ficarão os dias sem te ver, sem te sentir,
sem beber de ti palavras que diziam amor.
quanto partires, irão explodir os pássaros
que voam lentos nos fins de tarde que se irão seguir aos beijos que ficaram por dar.
irão ficar sós os amantes que ficaram por fim,
irá ficar o meu corpo rasgado pelo vento que me entra na pele e bebe de mim,
irão ficar as marcas que deixaste no meu corpo se mais nada para ser.
beijo-te por fim quando partes para Invernos longínquos onde nunca te irei ter.

és um quadro que pintei mas que não vês.
fomos portas que ficaram por fechar nos dias que escorrem por nós.
bebemos olhares que surgiam quando a dor vier e a luz voltar.
enquanto os telhados e sombras dormem na cidade,
beijávamos segredos que ninguém irá contar,
enquanto me esqueço dos dias que escrevemos só para nós.
um dia quando nascerem os dias por fim,
nos dias que escrevemos juntos, numa folha que dançava na noite que dormia agora assim,
irei acordar nos teus beijos, bebendo da tua pele nua que me toca por fim.
um dia irei ser quem vai ser, irei ser quem te vai ter dentro de mim
num futuro que iremos escrever.

o que imagino de ti, é a dor e a solidão de não te ter.
são os dias antes de estares dentro de mim, os dias em que te levei dentro do sol,
os dias em que sei te ver.
descubro-te depois em dias frios que não sei quanto irão durar.
se não for eu quem vai ser,
se não for quem te vai ver em mim,
perco os dias deixando nas folhas que escrevi num outro café qualquer onde beijámos palavras e bebemos segredos dos dias sem dias de te ter.

trazias o sol de mais

trazias o sol de mais um dia de inverno dentro de ti,
trazias o vento que dançava entre nós no cabelo,
trazias contigo as sombras dançantes que beijavam os prédios à minha volta.
eras os beijos perdidos nas tardes de te esquecer.
trazias em ti lugares distantes que queria pintar.
o sol caia-me por entre os dedos
enquanto crescias na noite que te beijava a face,
ficavas perante mim solta no vento, numa imensidão outonal.
as sombras fugiam de mim com a vastidão de ti que crescia em mim.
beijava-te na face beijando todos os locais distantes que cresciam agora em mim.
enquanto partias, fechava os olhos para te ver, para não chorar.

sábado, abril 03, 2010

trazias o sol de mais um dia de inverno em ti.
trazias o vento que dançava entre nós o cabelo.
trazias contigo as sombras dançantes que beijavam os predios à minha volta.
eras os beijos perdidos nas tardes de te esquecer.
trazias em ti lugares distantes que queria pintar.
o sol caia-me por entre os dedos enquanto crescias na noite que te beijava.
ficavas perante mim etérea, solta no vento, numa imensidão outonal.
as sombras fugiam de mim com a vastidão que crescia em mim.
beijava-te na face, beijando todos os locais distantes que cresciam agora em mim.
enquanto partias, fechava os olhos para te ver, para não chorar.

segunda-feira, março 22, 2010

O ódio transforma tudo em tempo.
Tempo de te querer, de te beijar, de te ter
sobre mim, dentro de mim.
O tempo transforma-se no ódio de te ter
no tempo de te ver.
Sobre os pássaros que voam dentro de mim resta-me o ar,
resta-me o corpo que te toca, que te sente, mas que não é meu.
Fecho os olhos para te ver, para não chorar
para não morrer pelos sonhos que deixas ao longe
pelos beijos que soltas num corpo que não é meu.
Perco-te ao longe enquanto te escrevo mais uma vez.
Tu partilhas o teu corpo belo com o suor que te beija o rosto
que não me pertence, que nunca irá ser meu.
Lá ao longe deixo-te fugir pelas noites que ansiava para mim
enquanto tu dentro de alguém, com alguém dentro de ti,
fugias-me por entre os dedos, por entre o meu corpo só.