terça-feira, abril 20, 2010

Quando percorria a cidade

lembro-me dos dias em que ainda existia em mim e de um homem que percorria a cidade ali tão perto.
recordo-me dos livros nas montras, desejando ser agarrados por alguém, quando ainda existia alguém para os desejar.
acordava bem cedo para te ver.
nos tempos em que ainda exista em mim, embriagava-me com os teus olhos de um cinza com tons de azul no café onde nos costumávamos encontrar.
trazias sempre os dias em que te queria ver.
eras como os livros que esperavam inquietos por alguém que os desejasse agarrar. eras como os livros que esperavam sós que alguém os desejasse agarrar. caminhávamos pela noite,
mantinhas a tua blusa com dois botões abertos para me provocar, pois sabias o que isso causava em mim.
mantinhas o rosto sereno iluminado pela luz da lua.
caminhávamos horas durante a noite, apesar do frio que se fazia sentir.
passavam horas sem que me dirigisses a palavra.
nem uma palavra cruel ou sem sentido.
como se não merecesse o que tinhas para dizer.
lembro-me de acordar e olhar para ti.
pondo a mão sobre o teu peito sentido o teu coração bater dentro de ti.