terça-feira, abril 20, 2010

Certo dia com a manhã cada vez mais resplandecente, vinha a chuva.
A chuva que brotava de céus dourados.
A chuva que tudo lavava das sombras como que se o próprio céu quisesse apagar as memórias que tinham deixado para trás.
Os homens apressados corriam pela sala com os seus cabelos que traziam o vento, gritando sons que alguém ousara recordar.
Ainda com a comida que lhes escorria pelo queixo, procuravam os seus melhores trapos.
Corriam para o velho alpendre, ostentando estandartes de tons ocre que mostravam ao céu.
Do meu quarto seguravas-me contra a janela, para que pudesse assistir à dança entre os homens e os céus.
Tentávamos esquecer as sombras cada vez mais escassas, mas elas lá estavam. Tinham levado quase tudo de mim.
Cada memória, noite após noite até que quase nada restasse.
Mas quase sem existirem lá estavam.
Ao longe nas montanhas ansiando por regressar.