Para ti que ainda agora chegaste II
Deixei-te morrer num dia qualquer em tons de laranja que não pude agarrar. Enquanto o dia morria à minha volta, limpava memórias com a manga do meu casaco. O frio agora doía-me na pele, enquanto o sangue escuro secava nas minhas mãos. Com o braço trémulo, segurava um papel amarrotado que outrora escreveras. Enquanto lia, a casa pendia sobre mim. Todos os silêncios mortos, todos os mortos em silêncio, todas as sombras que me rasgavam a carne e todo aquele nada, aquele vazio, espreitavam sobre o meu ombro. Num negrume pérfido como que se o céu mais escuro se rasgasse e dentro dele saísse a mais profunda das noites.
“As janelas do autocarro são um ecrã panorâmico para o fim do dia à minha direita. Por um lado vejo uma fila interminável a caminho de uma outra cidade, mas por outro vejo definidamente os contornos do monte e as nuvens que foram puxadas pela ponta de um pincel. Confundo as luzes do autocarro com o seu reflexo e com as de tudo aqui à volta.”
Dentro de mim choravas só. Estavas morta, ou distante. Disso já não me lembrava. Num outro país onde ninguém se podia recordar de ti. Dentro de mim estavas só. Sentada encostada a mim dentro de mim, limitavas-te a chorar com o rosto escuro pelos anos passados. Pelos dias passados sem nós. Dentro de mim estavas só.
"Untitled"
Para ti que ainda agora chegaste
"
Charlotte: I just don't know what I'm supposed to be.
Bob: You'll figure that out. The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you. "
"Let's never come here again because it will never be as much fun."
(Lost in translation)
Just lost in translation
L'Absente
Bem escrevi isto para variar no mesmo café de sempre. Acho que escuso de dizer para quem é.
Vejo o fim de tarde nascer e morrer nos meus olhos
através da janela do café,
vejo os carros com luzes que me cegam as veias
enquanto te chamo no espaço que ficou por contar
onde estava a vida há o que o medo matou
podes não voltar
mas o que se mantém em nós,
traz o tempo em que nos esquecemos de perder
nos sonhos que pintámos e escrevemos.
num trago de café
quero-te perder
quero-te perder
não quero ficar sem deixar
de esquecer e de te perder.
quero-te perder.
a noite que chega trás esperança entre os dentes
grito meu amor numa rua que ficou por contar
até que me deixo morrer nas folhas do chão
nas pedras da calçada,
nas chávenas de café agora vazias,
deixo-me morrer por fim numas palavras que alguém escreveu para tideixo-me morrer num livro que ambos deixámos por ler.
No surprises
No dia em que morreste fugimos os dois
beijámos longos fins de tarde em mais um café qualquer,
e fugimos por locais onde não me arrependo ter esperado por ti
em céus pintados por desejos secretos.
o suor que me saciava a sede de querer
de fugir e sangrar
de te procurar em mais um trago de café
de morrer mais uma vez
para morrermos mais uma vez
para quando morrermos mais uma vez
então seremos nós
sós sem mim
foi então que vi os teu olhos num fim de tarde lento
e um anoitecer que ficaria por escrever
Delicate
Hoje apaixonei-me.
Mas tu foste embora.
Swimming on a fish bowl
"So you lost your trustThat you never should have"
"I'll be doing my best
And I'll see you soon"
Breathe
Com o Inverno a chegar lentamente, é tempo de reflexão e tempo para encontrar coisas do passado. Aproveito para escrever algo que encontrei num pequeno cartão amarelo à muito tempo perdido no meio de tantos outros papeis e cartões.
"Breathe, breathe in the air
Don't be afraid to care
Leave, but don't leave me
Look around, choose your own ground
Long you live and high you fly
And smiles you'll give and tears you'll cry
And all you touch and all you see
Is all your life will ever be
Waters/Gilmore/Wright
O fascínio de milhares de reflexos, o brilho dos espelhos e a beleza das pequeninas coisas..."