domingo, novembro 20, 2005

Eu...

O fim de tarde esperava-se como tantos outros, com aquela música que todos os dias ecoava incessantemente nas paredes dos velhos prédios sujos, pelas diversas camadas de história que os cobriam. Na rua, uns jovens jogavam basket ao som da música que se fundia com o ar quente e abafado de fim de tarde, tornando o ambiente um tanto melancólico. Na entrada de um dos prédios sem vida descansava um velho, que parecia já pertencer há muitos anos a todo aquele ambiente tão maravilhoso como pesado e hostil. No fundo da rua três crianças contemplavam o céu, conseguindo ser por instantes mais livres do que as nuvens que numa paz impressionante, percorriam vagarosamente aquele vasto manto azul.
Num dos prédios vivia Nicholas, um jovem rapaz de idade incerta e espírito envelhecido por toda a sua atribulada e complicada vida. Mais uma vez, como todos os dias Nicholas regressava a sua casa que mais parecia um poema tornado realidade. As paredes cobertas por um papel de padrão quase irreconhecível. Flores para uns, sujidade para outros. O chão era de uma madeira gasta e encontrava-se corroída pelo imperdoável passar do tempo.
Nas estantes encontravam-se livros com as mais diversas cores e tamanhos, que davam um ar um tanto intelectual ao ambiente dentro da casa.
Como em todos os fins de tarde, Nicholas pegava na sua velha bicicleta e rumava em direcção a um pequeno porto que existia nos confins de Brooklyn, para admirar o fantástico pôr do sol, hábito que ele iniciara no dia em que a tragédia aconteceu, e em que ele aprendeu a amar.