quinta-feira, agosto 16, 2007

"estou sentado numa cadeira simples
numa varanda debaixo de um
telhado de telhas e chove à minha
volta sou demasiado novo e cansado
cansado e sem força de nunca ter
feito ou dito nada cansado de
tempo de vácuo lâmpada de lusco-fusco
idade de domingos cinzentos de
nuvens cinzentas sem céu chuva
demasiado novo e velho demais sem
força de estar sempre sentado numa
cadeira que me deram numa
varanda que construíram sobre mim
debaixo de um telhado telha por telha
sem história e sou criança e sou
logo velho e só passou um domingo
longo de horas infinitas até ao último
minuto sem força de membros inúteis
cansado como a chuva que cai para
nada"


"estou sozinho de olhos abertos para a escuridão. estou sozinho.
estou sozinho e nunca aprendi a estar sozinho. estou sozinho.
sinto a falta de palavras. estou sozinho. estou sozinho.
sinto falta de uns olhos onde possa imaginar. estou sozinho.
sinto falta de mim em mim. estou sozinho. estou sozinho.
estou sozinho."

José Luís Peixoto (A Criança em Ruínas)