domingo, julho 09, 2006

Coisas

Os minutos, os dias, as semanas, os meses, iam-se acumulando lentamente na minha mente tal qual cigarro que ficou por apagar, e eu nunca deixara de te ver ocasionalmente na rua, num café, num autocarro, sempre com aquele teu sorriso estúpido de quem sabia que serias sempre melhor do que eu.
Nos últimos dias sentia uma forte necessidade de falar contigo, naqueles momentos em que te perdia no meio da multidão e percorria aquele mar de pessoas com os olhos semicerrados. Mas lá no fim, naqueles últimos segundos em que me preparava para esquecer, lá estavas tu impávida, sublime, pura, qual anjo delicado com as suas asinhas feitas de cartolina.
Acabávamos sempre por parar no mesmo café, sorvendo os mesmos sabores, ouvindo os mesmos ruídos e tilintares que preenchiam os espaços vazios juntamente com o fumo de cigarro naquela atmosfera esquecida. Era sempre nesses momentos que eu tinha medo de simplesmente quebrar. A raiva em mim encontrava-se latente, soltando-se nos momentos em que eu menos queria, num rugido medonho que me fazia tremer por dentro. Era como que ter um pesadelo acordado. O monstro dentro de mim seguia então os cheiros, os rastos, os olhares perdidos, os pensamentos esquecidos, esperando, ansiando, desejando e saboreando cada desespero ou desalento que pairasse no ar.