quarta-feira, novembro 12, 2008

Coloquei aqui uma série de posts novos. Espero que gostem. Este é o último por hoje.


Chegava finalmente a casa.
A casa que tinha abandonado e esquecido num canto da cidade.
No entanto todos os espaços, os vazios e os cheios.
Tudo parecia diferente,
como que se alguém tivesse mudado propositadamente a disposição de tudo incluindo as fundações do edifício.
A grande sala onde anteriormente entrava toda a luz que se recusava a chegar aos passeios imundos da cidade,
estava agora escura.
Esquecida e sem vida alguma.
A tinta branca das paredes, tinha dado lugar a um fraco papel castanho rasgado em alguns locais.
No quarto onde se encontrava apenas a minha cama e um pequeno armário escuro, depositavam-se agora inúmeros móveis amontoados sem qualquer ordem.
Tudo o que preenchia agora a casa, lembrava-me as memórias que tinha tentado sempre esquecer. Mesmo assim, puxei um velho colchão e tentei adormecer perante aquela escuridão.
Tu dentro de mim dormias também.
O que não existia lá fora ou em mim, existia dentro de mim.
Os meus sonhos tornavam-se lamentos cruéis, de dias que passara a esquecer memorias que não queria escrever.
Tremia face à incerteza do que seria real.
As paredes à minha volta dissolviam-se na escuridão, enquanto o papel de parede já rasgado em alguns locais, ia-se tornando parte do chão de madeira baça e suja.
O papel castanho rasgado em alguns locais.
O papel castanho que se recusava a pertencer à casa.
O papel de padrão confuso que adensava a escuridão numa dança lenta diante dos meus olhos.
Toda a matéria à minha volta dissolvia-se na escuridão, tornando o ar denso e quase irrespirável.
Cobria-me com o lençol velho que se ia dissolvendo no ar espesso.

A casa

Na casa obscurecida pelas árvores,
ficavam os gatos com os seus corpos longos.
Seriam agora como as sombras,
misturavam-se com aquelas linhas ténues entre a sombra e a luz
beijando a noite e fugindo aos segundos perdidos no dia.
Restava pouco da casa, apenas as sombras e os gatos.
Quando mais ninguém ouvia, ressoavam o ranger da madeira como que se dum lamento se tratasse
Quando mais ninguém se lembrava, surgiam os lamentos que ninguém queria ouvir.
Na casa obscurecida pelas árvores restavam os gatos,
os gatos e os seus corpos que se amontoavam nas salas,
entorpecidos pela sua essência etérea
já à muito esquecida por que já não queria viver.

Retrato de uma cidade

Aveiro é a cidade em que me perco em mim
Restos de palavras do meu caderno sujo, são os dias em que me tento esquecer
É os rolos que ficam perdidos num casaco agora esquecido,
numa estação de comboio qualquer
É os dias tristes que me passaram diante dos olhos
e os dias frios em que te esperei, os dias frios em que te amei
Será sempre restos duma cidade, restos de uma palavra,
de muitas palavras,
daquelas palavras que ninguém quis escrever.

Nos dias de te ver

Nos dias de te ver, fugias como se não estivesse lá
Perdias-te nos livros a que acresciam as palavras no pó que os preenchia.
Nos dias de te ver, perdias-te como se não estivesse lá
Atiravas palavras à parede enquanto te perdias em mim